Há 95 dias dos Jogos de Paris-2024, o Comitê Organizador começa a pensar em plano B para contornar possíveis problemas de segurança. Bem mais complicado do que isso foram as ameaças que colocaram em dúvida a realização das Olimpíadas de 2004, em Atenas.

Há 20 anos, o Movimento Olímpico decidiu levar os Jogos de volta ao local em que foram restaurados, em 1896. Voltar às origens, no entanto, se transformou num pesadelo, provocado pelo caos econômico e político da Grécia, no início do século XXI.

Várias vezes os Jogos de Atenas foram questionados, devido a ameaças terroristas e, principalmente, pelo atraso nas obras dos locais de competição.

Além disso, o trânsito de Atenas sofria com os engarrafamentos, e a rede hoteleira se revelou insuficiente para acomodar todos os milhares de jornalistas credenciados.

Em reportagem do jornal Lance!, Sidney Daguano fala sobre esse assunto. Confira o relato na íntegra:

“Eu estava lá, pela TV Globo, e ‘morei’ num apartamento residencial. Uma solução emergencial, que o Comitê Organizador ofereceu às empresas de comunicação. Sim, moradores de Atenas foram incentivados a alugar suas habitações, por um mês. O negócio foi muito vantajoso para eles, financeiramente. Centenas de famílias empacotaram seus pertences pessoais e foram passear pelas ilhas gregas, às custas do governo, ao mesmo tempo em que recebiam rendimentos dos aluguéis.

A TV Globo decidiu alocar parte de sua equipe em apartamentos que ficavam próximos do International Broadcasting Center, onde trabalhávamos. Assim, a dor de cabeça inicial acabou se tornando um privilégio para nós, que podíamos ir e voltar a pé do trabalho, passando na frente do Estádio Olímpico.

Da habitação ampla e muito confortável, que eu dividi com os colegas Fabio Caetano e Miguel Athayde, era possível ver parte do Estádio Olímpico. E, claro, ouvir a vibração dos torcedores e ouvir o som das músicas que embalaram as Cerimônias de Abertura e Encerramento.

Eu estive lá dentro apenas uma vez, no dia da prova nobre do atletismo: a final do 100 metros, vencida pelo americano Justin Gatlin. Surpresa geral, pois ele não era apontado como favorito. De qualquer forma, Gatlin foi aplaudido como o mais novo semideus das pistas, que iria ser dominada pelo jamaicano Usain Bolt, nas três Olimpíadas seguintes.

E também torci pelo brasileiro Jadel Gregório, que tinha alguma chance no Salto Triplo. Não deu, ficou em quinto lugar. O ouro foi conquistado por Christian Olsson, da Suécia. Vi outro sueco se tornar campeão olímpico, Stefan Holm, que voou no Salto em Altura. E também o triunfo do japonês Koji Murofushi, no Arremeso do Martelo. Deles, pouco ouvi falar depois, mas a sensação de acompanhar a transformação mágica de atletas mortais em semideus do olimpo, isso não se esquece nunca”.